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André Garcez Ghirardi's avatar

Aproveito o "subsídio à reflexão" para compartilhar o entendimento de que eleição de DT expôs, de fato, a condição crítica do campo do trabalho na luta de classes nos EUA, como manifestação específica da condição mundial do campo trabalho no rescaldo da globalização. Entendo que os referidos "erros dos democratas" são também consequência dessa condição, além de terem sido o equivalente de "kryptonita": os democratas foram abertamente criticados pela presidente da AFL-CIO Liz Shuler que acusou a falta de sensibilidade do partido com o trabalhador marginal, o lumpen-proletariado (o mais atingido pela criptonita da inflação). Shuler ponderou que KHarris tinha vantagem de 17 pontos entre os trabalhadores sindicalizados, mas que o lumpen votou maciçamente com DT (https://www.theguardian.com/us-news/2024/nov/16/harris-campaign-working-class-union-economy). Mesmo dentro da AFL-CIO o apoio esteve longe de ser uniforme, com a notável recusa do maior sindicato, os Teamsters (motoristas de caminhão) em endossar a candidatura democrata. Os teamsters são especialmente relevantes nos termos da resenha do livro de Moody onde se ressalta "a crescente importância relativa da logística e seus grandes centros nos EUA", bem como a dificuldade crescente em incluir no movimento sindical os milhóes de trabalhadores precariamente inseridos em serviços de saúde, alimentação e cuidados. Dificuldade de, concretamente, conseguir cidadania plena: daí a notada natureza 'inorgânica" de candidaturas "de esquerda" como Bernie Sanders. Moody conclui pela posição algo idealista de inclusão desse lumpen no movimento sindical. São certeiras as "pistas" oferecidas na Conclusão das resenhas, para a ascensão de DT e da direita em todo mundo: a globalização da produção aprofundou a desigualdade de renda em quase todo o ocidente (com a possível exceção da Alemanha) de 1995 para cá, refletindo o abismo entre as qualificações da classe "management" e a classe "trabalho direto". A impotência da grande massa trabalhadora para agir coletivamente foi ainda mais agravada pela transformação pulverizante das pautas dos trabalhadores em pautas identitárias. A raiz dessa pulverização estaria no abandono do conceito de classe pelo eurocomunismo, na visão de Ellen Meiksins-Wood em The Retreat from Class, o que parece ser validado pela citação de Losurdo, para quem as pautas identitárias seriam reflexo de pluralidade de classes sempre valorizada dentro do campo marxista. Deixo esse último ponto como possível argumento para continuar a discussão em torno dessas oportunas e bem-vindas resenhas por Nuno Teles.

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